terça-feira, 30 de março de 2010

A foto, o livro

Laís Modelli
Ela tinha 6 anos e nunca tinha visto um livro antes. Há quem arrisque, inclusive, que Hadija nunca tinha sequer tocado em uma folha de papel. Sim, esse era seu nome, Hadija. E por que ela nunca havia sido apresentada a um livro antes? Porque o lugar onde Hadija vive costuma ser povoado não pelas palavras escritas, mas pelas onomatopéias gritadas pelas bombas noturnas e pelos tiros matinais. E assim como há inúmeros Severinos no sertão nordestino do Brasil, também há muitas Hadijas no país das onomatopéias. Mas naquele dia da foto, a garota de 6 anos passou a ser diferente das outras Hadijas, pois agora sabia o que era um livro e conhecia a consistência de uma folha de papel. E quem diria que uma Hadija, que tem a mesma sorte de um Severino, seria capaz de avisar todo o mundo que faltava educação em seu país, até então refém das onomatopéias e órfão da escrita. A foto, por sua vez, deu ao fotografo, um jovem jornalista ocidental, reconhecimento mundial. E o que foi feito por Hadija? A única coisa que podemos afirmar é que o tal jornalista e fotografo deu à garota o seu livro, aquele da foto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário