sexta-feira, 2 de julho de 2010

Considerações sobre documentário

Thiago Sawada RA: 830691

Na pré-produção de um documentário, parte-se de uma ideia que deve ser subjugada por duas limitações principais: tempo para gravação e recursos financeiros. Obviamente, satisfazer essas pré-condições não garante a qualidade do produto final. Ora, o sucesso dessa expressão audiovisual é bastante condicionado ao tema – este seria o principal de um documentário, segundo Trisha Das. Entretanto, não basta o tema ser de interesse do espectador se não há imagens suficientemente capazes de manifestá-lo.
Por mais que um documentarista fique restrito à dimensão de um tema, por outro lado, em geral, as possibilidades de formas para produzi-lo são bastante amplas. Até mesmo em Edifício Masther, onde Coutinho estabelece que os personagens seriam compostos pelos moradores do prédio, evidencia-se que a história de pessoas comuns pode ser uma fonte bastante produtiva para um documentário que se propõe expressa a intimidade humana.
Um documentário não tem a estrutura de um filme de ficção, cuja trama já fora previamente determinada. Sendo assim, a composição de um documentário sempre é flexível, de tal forma que este gênero acaba dependendo muito das condições factuais enquadradas no campo de filmagem da câmera, bem como de personagens não habituados a se comunicar em um vídeo. E mesmo que as produções cinematográficas e documentárias sigam por caminhos diferentes, suas estruturas devem ser construídas buscando apreender o interesse do público.
Ainda que busque representar uma “realidade”, vários documentários utilizam-se de recursos ficcionais. No making off de Edifício Masther, Coutinho demonstra sua empolgação com a proximidade da realidade com a ficção. Por mais que em certos casos, a distinção entre ficcional e realidade seja muito tênue, pelo menos em um aspecto, é possível separar os gêneros: no caso do documentário os personagens são pessoas reais que assumem um papel determinado pelo tema abordado. O interessante é que, em Edifício Masther, os moradores não apenas sustentam a ideia central, como também criam pequenas tramas a cada depoimento.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Documentário "Edifício Master" e os tópicos de Tricha Das

Silvia Franchin de Campos - RA 830551

Segundo Tricha Das, o gênero documentário possui certas peculiaridades. Com o documentário Edifício Master não foi diferente, apesar de certas características da obra de Coutinho não condizerem com a concepção de Tricha Das. O documentário Edifício Master é formado pelo conjunto de várias histórias contadas por indivíduos que habitam o mesmo local. Apesar desse conjunto de histórias formarem a identidade do Edifício, ele não pode ser considerado o personagem principal, afinal, Coutinho soube dar a cada um dos entrevistados a importância necessária para ser visto como personagem principal. Portanto, nesse caso, Edifício Master não condiz com tópico de Das, em que “o tema é o principal”. Um fator que chama a atenção no documentário é a flexibilidade presente no decorrer da filmagem. Isso porque, a equipe de Coutinho chega ao Edifício e começa a bater nas portas à procura de possíveis entrevistados. Ou seja, não havia um roteiro, algo programado do inicio ao fim, pois a equipe chega ao local sem saber exatamente qual caminho será tomado na filmagem. Por isso, o documentário condiz com os tópicos “é flexível” e “envolve menos controle”. O documentário consegue também alcançar a “credibilidade” exaltada por Das. Isso porque, o clima rústico da filmagem e a entrevista - mais parecida com uma “conversa” - consegue transmitir maior veracidade que uma entrevista comum. No making off, a maneira como Coutinho dialoga com os moradores do edifício transmite a idéia de que o diretor realmente consegue “arrancar” a verdade dos personagens. Por serem histórias reais narradas pelos indivíduos, o documentário, como propõe Tricha Das, “trata de fatos, não-ficção”. Por fim, o documentário, apesar de ser filmado por câmera fixa e limitar-se ao interior de um edifício, “inspira movimento e ação” se o espectador conseguir se envolver com as historias contadas pelos moradores do Edifício Master. Através das histórias, o espectador consegue se libertar do espaço delimitado pelo edifício para outros espaços e ações colocadas pelos entrevistados.

Documentário “Edifício Master” e análise “How to write a documentary script”

Documentário “Edifício Master” e análise “How to write a documentary script”

Renato Sostena 830615

Relacionando a produção do making of de “Edifício Master”, de Eduardo Coutinho, com a análise de Trisha Das, é possível apontar os tópicos propostos por Trisha, na prática. O documentário em questão tem o Edifício como personagem central, constituído de histórias pessoais dos diversos entrevistados, que também se relacionam com a obra na forma de personagens. Isso porque a temática, segundo Das, muda de acordo com o que está sendo mostrado, contado. Dessa forma, a intimidade dos moradores representa o tema.

Além de discorrer sobre temática, o texto também toca no ponto da limitação da produção audiovisual. O gênero documental permite a flexibilidade de uma maior dinâmica de edição, sem restrições de gravação com aplicação de roteiro. Porém na edição, o controle é exercido na forma da escolha das cenas, para a adequação à idéia.

Para a produção do “Edifício Master”, a equipe de Coutinho viveu no Edifício por alguns dias, para que ocorresse certa correspondência entre os entrevistados e a equipe, e assim familiarizados as entrevistas seriam mais intimistas e com o teor dramático adequado para o projeto. Apesar da personalização, todas as histórias são reais, o que confere credibilidade ao documentário.

Então, entrelaçando a crítica de Trisha, “How to write a documentary script”, com o que o making of revela da produção do documentário é que sem dúvidas, a credibilidade é a peça chave do documentário. Caso contrário, a representação do audiovisual seria classificada em outro gênero, que utilize o artifício ficcional.

Em termos de tema, ele se molda a cada conversa, cada entrevista, cada silêncio que está na obra. Ele permeia a pessoalidade dos personagens e a coletiva deles, na relação de moradores do mesmo prédio. Logo, a forma é mais importante que a fórmula, pois ao contrário do cinema, com algumas exceções, os documentários levam uma idéia, geralmente proposta por um idealizador, o que é representada pela forma que a obra toma, e não pela fórmula que ela se baseou.

A credibilidade alcançada pela intimidade conquistada com os personagens afirma a veracidade do tema, que é a relação dos moradores protagonistas com o prédio, com outros moradores e suas histórias de vida. A flexibilidade pode ser notada na forma com que Coutinho levou a produção, sem se preocupar com a pressão de tempo, para que o material colhido fosse exatamente o que ele precisava. E mesmo com câmeras fixas, entrevistas reflexivas e pontuadas por silêncio, o documentário leva o movimento e a ação contidos dentro da temática proposta.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O documentário de Coutinho

Por Laís Modelli RA: 830828

Ele não se preocupa com a criação de personagens, ele apenas busca-os. Assim é o documentário de Eduardo Coutinho, Edifício Master. A exemplo do que Gay Talese fez em seu livro sobre perfis de pessoas reais, tendo como ponto de partida a cidade de Nova York, Coutinho tem no decadente Edifício de Copacabana o ponto de união desses perfis. No making off podemos ver que o documentarista percorre os corredores do prédio batendo de porta em porta. Aliás, sua produtora o faz em busca da autorização do morador. A produtora conversa, explica o que está acontecendo e o que pretendem com a gravação. Uma vez aprovada a conversa pelo morador, entra em cena Coutinho, que participa de toda a filmagem, conversando com o personagem, sem aparecer nas cenas, já que a câmera está posicionada ao seu lado. O making off do documentário, no entanto, mostra que não é tão simples assim gravar o Edifício Master. Uma vez dada a carta branca para a conversa, o trabalho da produção só está começando: é preciso saber posicionar a câmera, é preciso fazer o personagem contar suas histórias, é preciso saber escolher os personagens. Gravar o documentário é tão complexo que, no começo do making off, parece que Coutinho escolheu o cenário errado. Os moradores estão muito desconfiados e os que mostram seus rostos não tinham boas histórias. Começamos a ver, no making off, o bonito Edifício Master se formar quando o diretor passa a ser uma figura confiável dentro do prédio, deixando seus personagens mais a vontade. O diferencial do documentário de Coutinho é saber reconhecer quando o real parece ficção.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Intersecção

ow to write a documentary script? de Trisha Das e o documentário Edifício Master de Eduardo Coutinho são duas aulas de como se fazer roteiros para documentários. É inevitável, de início, desconfiar: como ensinar algo que não possui forma até ser feito? Trisha responde teorizando sobre o que já foi filmado; Coutinho, filmando.
Enquanto Trisha Das tem uma teoria relativamente complexa, com regras e estilos, Coutinho é a personificação da prática (que não deixa de ser um estilo). No entanto, ainda que em estilos bastante distintos, há um sinequismo (aproveitando o termo da semiótica peirceana que embasa alguns aspectos da teoria de Trisha) nas lições de ambos, mostrando que concordam em muitos aspectos.

As sete considerações que Trisha sugere para o documentário são exemplarmente exploradas por Coutinho em sua produção. A segurança do cineasta ao lidar com a flexibilidade do gênero, refletida na preocupação em adaptar o filme ao conteúdo captado, ao invés de tentar encaixotar os depoimentos num formato pré-estabelecido, deixam evidente que o tema da filmagem - os moradores do prédio - sobrepõem-se a qualquer outro fator.
A voz dos entrevistados é quase todo o áudio do documentário, salvo pelas curtas perguntas dos entrevistadores (e a canção de Frank Sinatra, claro), o que limita o controle do documentarista mas sustenta a credibilidade dos depoimentos. O movimento, a fluidez do filme, é garantida pela própria eloquência dos entrevistados, quando não pelos raros cortes. A liberdade que os personagens se manifestam preserva a autenticidade das emoções captadas.

Contudo, a maior proximidade entre a prática de Coutinho e a teoria de Trisha está nos métodos de pesquisa. Trisha declara que quanto melhor for esta pesquisa, maior será o valor do filme. E especifica mais adiante que, mesmo relevando significativamente a consulta a livros e filmes que trataram anteriormente sobre seu tema, é importante entrevistar as pessoas , ter perspectivas variadas do tema que vai ser tratado. A quantidade de entrevistas que a equipe de Coutinho realiza na comunidade do edifício master é bastante significativa. O material coletado, além de apresentar profundamente os personagens do documentário, permite imaginar o cotidiano daquele condomínio. E tudo que foi produzido ali é fruto maior dos moradores que de Coutinho, justamente pela maestria com que ele permitiu que as coisas acontecessem naturalmente.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

"Edifício Máster" / "How to write a documentary script?” Trisha Das

Raphael Rodrigues 833711


Como se montar um documentário? É só pegar a câmera e seguir em frente? É necessário traçar todo um roteiro, que determine as ações, os personagens e os temas do qual este tratará? Com certeza tais perguntas já passaram pela mente de quem tem como objetivo um dia seguir o caminho da produção deste tipo de produção. Para responder tais perguntas Trisha Das em “How to write a documentary script?”, expõem alguns pontos colocados como de grande importantes para que se de a montagem de um documentário. São eles:

- O tema é o principal.
- Credibilidade é a chave.
- A forma é mais importante que a fórmula,
- Trata de fato, não de ficção.
- É flexível.
- Inspira Movimento e ação.
- Envolve menos controle.

Coutinho, em seu documentário "Edifício Máster" seguiu alguns dos preceitos colocados acima, como os de que a credibilidade é a chave e que um documentário deve tratar de fatos e não de ficção. Podemos verificar tais preocupações pelas entrevistas, o que demonstra que ali são histórias de pessoas, o passado e o presente de cada uma e que no momento em que elas aparecem à frente da câmera contando tais fatos há um grande depósito de credibilidade a estas histórias.
O documentário aqui comentado também envolve menos controle, logo é flexível, inspirando movimento e ação. Tais pontos são facilmente observados pelas mudanças de direções durante as gravações, e da busca de um tema já após a instalação da equipe no edifício. Até mesmo Coutinho em certo ponto comenta que eles ainda estão a procura do que realmente será feito alí .
Porém quando assistimos ao documentário de Eduardo Coutinho vemos que é se importante conhecer a fórmula, porém quando quebrados alguns padrões de forma consciente podemos alcançar ótimos e diferenciados resultados que chamam a atenção de espectadores. É assim que ocorre com o “Edifício Máster”, que vai contra alguns outros preceitos apresentados por Trisha. Ele não toma um tema como principal, nele o principal é o local onde são encontrados hoje os personagens que irão contar suas histórias. Os temas vão mudando em cada entrevista. Podemos dizer que apenas há um ponto de intersecção que agiria quase como tema, sendo este as histórias de vida de pessoas que hoje vivem nos andares do Edifício Máster.
Já a formula, aqui se apresenta mais importante do que a forma, já que a forma não existe de início. Ela vai se desenhando no percorrer das gravações do documentário, diferentemente da fórmula, que é a de entrevistar várias pessoas que ali vivem e trazer as essências dessas juntamente com histórias que atraiam o público. Porém durante a entrevista também não há um caminho a ser seguido, fluindo naturalmente.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Edifício Master

Júlia Matravolgyi RA: 830607
Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça. O documentário “Edifício Master”, de Eduardo Coutinho, chegou às telonas décadas depois do Cinema Novo, mas manteve um de seus princípios: a busca por produções com mais realidade, mais conteúdo e menor custo.

No documentário do ano de 2001, o cineasta instituiu um tema central para embasar seu filme e, a partir dele, passou semanas selecionando os personagens que participariam de sua história – a intenção era mostrar ao espectador um prédio banal perto da praia de Copacabana no Rio de Janeiro e provar que, por detrás daquelas portas e da aparência ordinária, estavam pessoas e histórias dignas de um filme.

Assim sendo, Coutinho utilizou três dos tópicos citados por Thisha Das em How to write a documentary script apenas na proposta do filme, provando a importância da escolha de um denominador comum para as histórias, e também que a forma é mais importante que a fórmula e que certa falta de controle é essencial para o sucesso de uma produção de não-ficção.

Explico: o tema central é suficiente para que Edifício Master seja um filme coeso. O diretor não precisou buscar histórias semelhantes ou características similares em seus entrevistados, uma vez que todos atendem ao pré-requisito de morar no prédio que nomeia a produção. A curiosidade do espectador parte do mesmo ponto – conhecer as várias narrativas que são guardadas pelas paredes do prédio.

Da mesma maneira, de acordo com a afirmação de Das e com as características da obra de Coutinho, a forma é mais importante que a fórmula, ou seja, a forma padronizada de exibir entrevistas e imagens do edifício é mais importante do que impor uma fórmula pré-estabelecida para as entrevistas que (ainda bem) fluem de acordo com a história de cada morador do edifício, seja ele o cantor em início de carreira, a senhora que relata ter sofrido um assalto, o homem que cantara com Sinatra ou a jovem prostituta.

Talvez não possamos dizer que houve falta de controle por parte do diretor, ou então devamos classificá-la como uma “intencional” falta de controle. Sem ela, o longa não teria se “construído” a partir das histórias dos moradores do edifício carioca. Percebemos isso no decorrer do filme e também em seu making of, onde os responsáveis pela produção se maravilham com cada história selecionada para fazer parte do longa.

Edificio Master trás ainda outras características estudadas por Trisha Das: baseia-se em fatos reais, contém histórias críveis (uma vez que são reladas por quem as vivenciou) e instiga os espectadores, inspirando movimento e ação. É quase uma versão cinematográfica do jornalismo literário – dá vida e aspectos narrativos ao que é banal e real, concedendo a notoriedade merecida às histórias que estavam lá, esperando para serem contadas.

Exercício Coutinho e definições de Trisha

Mariana Almeida RA:830801

A autora Trisha Das em How to write a documentary script define sete diferentes categorias como inerentes a um documentário, são elas:
- o tema é o principal;
- credibilidade é a chave;
- a forma é mais importante que a fórmula;
- trata de fatos, não ficção;
- é flexível;
- inspira movimento e ação; e
- envolve menos controle.
No documentário Edifício Master de Eduardo Coutinho, vemos que nesse caso específico nem todas as categorias de Trisha são seguidas, algumas até são opostas ao que ela define.
Coutinho não tem um tema definido, ele apenas decidi fazer um documentário e exige que este seja feito no edifício Master, porém não há sequer um tema ou um roteiro pré-determinado.
Quanto à credibilidade Coutinho também pensa ser a chave, assim como Trisha, ele prefere desistir a fazer algo que não fique bom, segundo seus padrões. Ele também segue a teoria de que a forma é mais importante, assim ele muda de estratégia ou de foco quando necessário para o andamento do trabalho.
A questão da não ficção não é muito levada em consideração por Coutinho, pois ele sempre busca por personagens que relatem boas histórias, independente de estas serem reais, já que esse não é seu foco principal.
Coutinho é bastante flexível em seu documentário, dessa forma quando algo não está de acordo com o previsto é mudado imediatamente. Juntamente com sua equipe ele sai para fazer as gravações pré-agendadas, porém se encontra uma boa personagem no meio do caminho, eles vão atrás dela para ouví-la.
O documentário Edifício Master é bem dinâmico ao apresentar depoimentos de diferentes pessoas sobre os mais diversos assuntos e situações.
Durante toda a gravação não há um rígido controle de Coutinho, pelo contrário as coisas vão ocorrendo livremente, de maneira que ao final das gravações tem-se uma infinidade de horas em inúmeras fitas com depoimentos que somente na edição serão escolhidas e selecionadas pelo diretor de maneira que possam dar uma sequência plausível ao documentário.
O documentário de Eduardo Coutinho, “Edificio Master”, é a prova de que todos têm alguma coisa para contar. Não importa quem seja, mas que seja verdadeiro. Coutinho procura exatamente isso: a verdade que se esconde, a verdade detrás as portas daquele condomínio, a verdade que nem sempre se mostra, porque nem sempre há alguém que queira escutar. Coutinho soube perguntar e, sobretudo, soube escutar. É a partir disso que o diretor é levado por aquelas pessoas, com suas histórias e para outras histórias e pessoas que também residem ali.

Diante a perspectiva do pormenor, Coutinho não pode limitar. Não pôde escrever um roteiro porque não sabia o que o esperava, não sabia se ao menos teria um documentário no final das gravações. O tema nem sempre é o principal quando se lida com gente, porque a vida sincera não pode ser limitada por um olhar arrogante, predisposto. Deixa de ser um documentário e se abstém dos fatos para ser uma ficção. Um olhar predisposto, que aguarda uma resposta ensaiada, não deixa de ter sua essência, sua arte, e tem sido muito valorizado. Porém, o olhar predisposto é mais fácil, menos flexível, menos questionador e se torna um vício.

No documentário, toda essa estrutura lógica de formato audiovisual é posta de lado; não há linearidade, não há lógica na sequência em que os depoimentos foram disponibilizados, não há pessoas travestidas de personagens. Não há nenhum intuito maior se não escutar o que cada uma daquelas pessoas tem a dizer, e é ai que nos impressionamos. As histórias contadas parecem ser inventadas, porque exercitamos o escutar sincero, sem pretensões. E só acreditamos porque a credibilidade é construída pouco a pouco, diante a narrativa despida de efeitos e até amadora no sentido da captação das imagens. As imagens fora de foco, tremidas, mal enquadradas exerceram esse importante papel na construção da credibilidade ao se aproximar do real, do imperfeito.

Dessa maneira, Coutinho soube conduzir com flexibilidade as entrevistas. Não foi conduzido nem deixou de conduzir, afinal uma pergunta pode levar toda uma entrevista para outro lado. É no limiar entre levar e se deixar levado que Coutinho registra as possibilidades do ouvir por completo, provando que todos têm sim alguma coisa para contar.

Ana Paula B Machado 830941

O documentário “Edifício Master” e os tópicos de Tricha Das

Renata Mondini Takahashi

830593

É complicado elaborar uma fórmula para uma produção audiovisual. A tentativa pode ser válida e útil em algumas ocasiões, mas não deve limitar o produtor, diretor e roteirista. Tricha Das trabalha com sete tópicos em “How to White a documentary”. A seguir, alguns comentários a respeitos desses tópicos, com base no documentário de making off do filme também documental “Edifício Master”, dirigido por Eduardo Coutinho.

No making off, descobrimos que para produzir “Edifício Master”, Coutinho e sua equipe passaram algumas semanas morando no edifício, para aproximar a equipe e os moradores, e para que a produção se familiarizasse com o lugar. A intenção era inspirar a equipe, para fazer surgir idéias para o filme. Assim, quando Tricha Das diz que o documentário é um gênero flexível, ela é condizente com o que fez o diretor Coutinho, que se mostra aberto a idéias e possíveis mudanças de planos.

O documentário mostra que os moradores do edifício são pessoas diferentes umas das outras, cada qual com sua história. Ele procura dar espaço a cada história, uma por uma, o que faz com que o documentário tenha diversos personagens e protagonistas. Apesar disso, possui um tema que liga todas as pessoas que aparecem no vídeo, que é o Edifício. Todas são moradoras do Edifício Master. Ainda assim, não é apropriado dizer que o tema é o principal nesse caso, como afirma Tricha Das. A temática muda de acordo com a história que está sendo contada. Talvez se antecipando a qualquer crítica, um dos tópicos de Tricha é justamente que a forma é mais importante que a fórmula. Admite assim, mesmo tendo escrito uma lista de como se escreve um documentário, que quem produz o filme não precisa se fechar em um modelo. Eduardo Coutinho procede dessa maneira em sua produção.

O diretor opta, em boa parte do filme, pela câmera fixa. As entrevistas são, em sua maioria, depoimentos auto-reflexivos, com trechos de silêncio. As histórias contadas são reais. Portanto, o diretor trata de fato, não de ficção em seu documentário. Nesse ponto também se apóia a dramaticidade. Mas mesmo tratando de fato, o making off nos mostra que há seleção na gravação dos depoimentos e na escolha e edição dentro do vídeo. Por isso, não necessariamente, a produção de um documentário envolve menos controle, como afirma um dos tópicos de Tricha.

Não há dúvidas sobre a credibilidade ser a palavra-chave na produção do documentário. No caso de Coutinho, ele constrói sua credibilidade na forma como lida com os personagens do filme, encorajando-os a contar suas histórias na frente das câmeras e não impondo barreiras aos entrevistados. Assim, eles ficam tão a vontade que a conversa parece íntima, o que dentro de um documentário, que busca mostrar a realidade, é essencial e acaba inspira o telespectador.