Júlia Matravolgyi RA: 830607
Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça. O documentário “Edifício Master”, de Eduardo Coutinho, chegou às telonas décadas depois do Cinema Novo, mas manteve um de seus princípios: a busca por produções com mais realidade, mais conteúdo e menor custo.
No documentário do ano de 2001, o cineasta instituiu um tema central para embasar seu filme e, a partir dele, passou semanas selecionando os personagens que participariam de sua história – a intenção era mostrar ao espectador um prédio banal perto da praia de Copacabana no Rio de Janeiro e provar que, por detrás daquelas portas e da aparência ordinária, estavam pessoas e histórias dignas de um filme.
Assim sendo, Coutinho utilizou três dos tópicos citados por Thisha Das em How to write a documentary script apenas na proposta do filme, provando a importância da escolha de um denominador comum para as histórias, e também que a forma é mais importante que a fórmula e que certa falta de controle é essencial para o sucesso de uma produção de não-ficção.
Explico: o tema central é suficiente para que Edifício Master seja um filme coeso. O diretor não precisou buscar histórias semelhantes ou características similares em seus entrevistados, uma vez que todos atendem ao pré-requisito de morar no prédio que nomeia a produção. A curiosidade do espectador parte do mesmo ponto – conhecer as várias narrativas que são guardadas pelas paredes do prédio.
Da mesma maneira, de acordo com a afirmação de Das e com as características da obra de Coutinho, a forma é mais importante que a fórmula, ou seja, a forma padronizada de exibir entrevistas e imagens do edifício é mais importante do que impor uma fórmula pré-estabelecida para as entrevistas que (ainda bem) fluem de acordo com a história de cada morador do edifício, seja ele o cantor em início de carreira, a senhora que relata ter sofrido um assalto, o homem que cantara com Sinatra ou a jovem prostituta.
Talvez não possamos dizer que houve falta de controle por parte do diretor, ou então devamos classificá-la como uma “intencional” falta de controle. Sem ela, o longa não teria se “construído” a partir das histórias dos moradores do edifício carioca. Percebemos isso no decorrer do filme e também em seu making of, onde os responsáveis pela produção se maravilham com cada história selecionada para fazer parte do longa.
Edificio Master trás ainda outras características estudadas por Trisha Das: baseia-se em fatos reais, contém histórias críveis (uma vez que são reladas por quem as vivenciou) e instiga os espectadores, inspirando movimento e ação. É quase uma versão cinematográfica do jornalismo literário – dá vida e aspectos narrativos ao que é banal e real, concedendo a notoriedade merecida às histórias que estavam lá, esperando para serem contadas.
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