Ana Helena Ribas
RA: 830471
“How to write a documentary script” é uma monografia escrita por Trisha Das que aborda tópicos importantes na construção de um vídeo documentário. Em relação ao produto ela fala as diferenças deste em relação a outros projetos audiovisuais, dá uma introdução sobre estilos diferentes de documentários e ressalta o quão importante é a fase de pesquisa para um bom resultado. Sobre roteiros especificamente, Das aborda os elementos essenciais de um bom roteiro e a decupagem do texto para documentário, além de dicas para um bom texto e formato ideal para o roteiro.
O trecho em especial no qual a autora descreve as diferenças do roteiro para documentário parece ter sido seguido à risca pelo cineasta Eduardo Coutinho na produção “Edifício Master, claro que não literalmente, mas intuitivamente. Analisando brevemente o making off do documentário, que trata sobre a vida de pessoas ordinárias moradoras de um edifício em Copacabana, é obviamente perceptível que o grupo prezou pela realidade e veracidade dos fatos. Os produtores chegam no limite do real, conversando diretamente com as fontes e centrando a câmera na figura de cada uma delas, que abrem um cofre de histórias íntimas e emocionantes. A equipe filmou o cotidiano dos moradores do prédio durante sete dias, e, para exaltar ainda mais o fatídico, Coutinho utilizou-se da técnica de entrevista interativa que contemplou 37 moradores, dentre os 500 do edifício.
Outra característica exposta por Das e aplicada por Coutinho foi flexibilidade do documentário. Realmente não deve ser fácil alterar o rumo da história diversas vezes e adaptar-se a mudanças que fogem da pré-produção. Apesar de ter gasto três semanas em intensa pesquisa no edifício Master, a equipe de Coutinho enfrentou imprevistos como o caso da moradora que se esqueceu de recebê-los, além da surpresa de momentos inesperados como o caso do garoto que devolve o gato para a dona.
A parte em que a autora fala que o documentário inspira movimento e ação também tem a ver com o documentário de Coutinho, pois o cineasta se preocupou essencialmente com o processo e a forma de transmitir a mensagem ao público, e, com isso, conseguiu histórias maravilhosas e caminhos diferenciados para o vídeo. Trisha Das fala também sobre a falta de controle e instabilidade da produção em documentário. Aquilo que havia possibilidade de ser estabelecido com antecedência foi cumprido pela equipe de Coutinho, que demorou pra encontrar um edifício que topasse fazer as filmagens. Eles tiveram o jogo de cintura de montagem do mínimo de aparelhagem de acordo com as condições de cada apartamento, o que denota que a equipe estava preparada para o improviso. A escolha de imagens não-óbvias também faz parte do rol de riscos que o diretor assume com o imprevisto. Mas é claro que o documentário não funcionaria com imagens de praia ou do porteiro vendo televisão.
Os últimos dois tópicos da monografia, “O tema é o principal” e “Credibilidade é a chave” também foram pincelados por “Edifício Master”, que já no título expõe sua intenção quanto ao direcionamento do vídeo. O tema (moradores do edifício) é abordado incessantemente, durante uma semana de entrevistas ambientadas no mesmo local. O leque de assuntos tratados por todos os entrevistados chegam a um aspecto em comum: o brilho na vida de cada vizinho desconhecido. Sobre a credibilidade, Coutinho atribui toda a voz do documentário aos personagens da vida real. Os depoimentos sinceros são perceptíveis pelo espectador em cada rosto dos atores desconhecidos e a veracidade transcende ao domínio manual do diretor.
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