terça-feira, 1 de junho de 2010

O documentário de Eduardo Coutinho, “Edificio Master”, é a prova de que todos têm alguma coisa para contar. Não importa quem seja, mas que seja verdadeiro. Coutinho procura exatamente isso: a verdade que se esconde, a verdade detrás as portas daquele condomínio, a verdade que nem sempre se mostra, porque nem sempre há alguém que queira escutar. Coutinho soube perguntar e, sobretudo, soube escutar. É a partir disso que o diretor é levado por aquelas pessoas, com suas histórias e para outras histórias e pessoas que também residem ali.

Diante a perspectiva do pormenor, Coutinho não pode limitar. Não pôde escrever um roteiro porque não sabia o que o esperava, não sabia se ao menos teria um documentário no final das gravações. O tema nem sempre é o principal quando se lida com gente, porque a vida sincera não pode ser limitada por um olhar arrogante, predisposto. Deixa de ser um documentário e se abstém dos fatos para ser uma ficção. Um olhar predisposto, que aguarda uma resposta ensaiada, não deixa de ter sua essência, sua arte, e tem sido muito valorizado. Porém, o olhar predisposto é mais fácil, menos flexível, menos questionador e se torna um vício.

No documentário, toda essa estrutura lógica de formato audiovisual é posta de lado; não há linearidade, não há lógica na sequência em que os depoimentos foram disponibilizados, não há pessoas travestidas de personagens. Não há nenhum intuito maior se não escutar o que cada uma daquelas pessoas tem a dizer, e é ai que nos impressionamos. As histórias contadas parecem ser inventadas, porque exercitamos o escutar sincero, sem pretensões. E só acreditamos porque a credibilidade é construída pouco a pouco, diante a narrativa despida de efeitos e até amadora no sentido da captação das imagens. As imagens fora de foco, tremidas, mal enquadradas exerceram esse importante papel na construção da credibilidade ao se aproximar do real, do imperfeito.

Dessa maneira, Coutinho soube conduzir com flexibilidade as entrevistas. Não foi conduzido nem deixou de conduzir, afinal uma pergunta pode levar toda uma entrevista para outro lado. É no limiar entre levar e se deixar levado que Coutinho registra as possibilidades do ouvir por completo, provando que todos têm sim alguma coisa para contar.

Ana Paula B Machado 830941

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