terça-feira, 1 de junho de 2010

Edifício Master: a verdade por detrás da verdade

Edifício Master (2002) se consolidou no mercado cinematográfico brasileiro ao retratar, com uma sensibilidade delicada, como diversas vidas comuns podem se entrelaçar e emocionar enquanto a vida de um edifício de classe média baixa é retratada. Coutinho mistura análise da emoção humana com o retrato da vida carioca dando ao documentário um ar intimista especial.
Mas até que ponto o documentário de Coutinho tem um estilo pessoal e até que ponto ele segue o modelo de documentário padrão?
Trisha Das definiu que um documentário, antes de tudo, deve se tratar de fatos, não ficção. Coutinho procura misturar os dois elementos, destacando o factual enquanto se preoucupa em retratá-lo da maneira quase ficcional. Percebemos a busca quase incessante de Coutinho em encontrar os "personagens" certos, que retratem a vida do prédio na visão humanista que Coutinho procura. Porém, mesmo com a intenção de transformar o documentário em um vídeo mais elaborado e subjetivo, a preocupação de Coutinho se atém nos fatos, o que se confere nas entrevistas que ele realiza com todos os possíveis "personagens" de seu documentário.
Também percebemos o quanto Coutinho se esforça para dar ao seu documentário a credibilidade necessária para tocar o espectador. Coutinho só se contenta quando obtém uma história verdadeira, e ele usa de suas experiências e de sua credibilidade para conseguir arrancar dos entrevistados essas histórias. A forma como faz isso também se destaca na maneira de Coutinho conduzir as filmagens. O diretor poderia fazer um documentário típico, mas ignora a fórmula e passa a testar diversas maneiras de conseguir as informações, jogando com o tempo, a disponibilidade dos entrevistados e as possíveis técnicas que pode usar. Coutinho se vira e revira na angústia de terminar o documentário, e exatamente por isso procura sempre a melhor forma de como fazê-lo. A flexibilidade, que Trisha Das destaca como importantíssimo em um roteiro, é marca essencial no documentário de Coutinho, porque, ao retratar a vida real, ele não tem total controle do material que obterá, então usa da flexibilidade para ter esse "descontrole" a seu favor.
De certa forma, "Edifício Master" segue exatamente os pontos principais de roteiros para documentário estipulados por Trisha Das. Porém, ao usar desses "passos" para construir um roteiro personalizado, que tenha a sua cara e o seu jeito de dirigir, Coutinho consegue transformar um documentário que tende ao comum para um documentário pessoal, interessante, movimentado. Bem, as "regras" de Das também são maleáveis, mas Coutinho leva essas regras a um patamar diferenciado, transformando "Edifício Master" não só em documentário, mas em um artístico quadro de Copacabana.

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