terça-feira, 1 de junho de 2010

Edifício Master: construindo um documentário

Marina Paschoalli 830461

Eduardo Coutinho é um dos mais importantes documentaristas brasileiros. "Edifício Master" (2002) venceu o Festival de Gramado de 2002, Festival de Havana, Margarida de Prata e Troféu APCA em 2003, todos na categoria de melhor documentário. Para a produção de Edifício Master, uma produção de cinema filmou o cotidiano dos moradores do Edifício Master, um prédio de 12 andares, 23 apartamentos por andar e cerca de 500 moradores, situado a um quarteirão da praia de Copacabana. Coutinho e sua equipe entrevistaram 37 moradores e são as suas histórias o enredo do documentário.

"Edifício Master" é construído a partir das entrevistas, feitas com a câmera voltada para os entrevistados que, no documentário, tem o papel de personagens. Cada um deles atua como "contador das histórias de si mesmo", e fala sobre seus projetos, remorsos, traumas e sonhos. Assim, o filme acaba resultando em um registro da vida urbana brasileira.

Em "How to write a documentary script", Trisha Das define alguns conceitos importantes da produção de um documentário. Esses conceitos podem ser aplicados na construção e filmagem de "Edifício Master", a fim de estabelecer problematizações acerca dos pontos de convergência e divergência entre a opinião de Das e a produção de Coutinho.

"Documentário lida com fato, não ficção", afirma Trish Das. De fato, o documentário em questão trata de pessoas reais e, mais importante, emoções reais. É justamente essa realidade vista na câmera que emociona o telespectador.

"Documentário é flexível", complementa Das. Uma cena do making of de "Edifício Master" retrata tal afirmação: Coutinho e sua equipe afirmando que não sabiam se teriam que procurar outro local para filmar ou se apenas o Master bastaria. Diferente de filmes ficcionais, é impossível concretizar eventos de acordo com um roteiro quando se trata da vida real. Considerando outro conceito importante de Das, "Documentário envolve menos controle". O cineasta não tem a habilidade de controlar as circunstâncias reais, como foi mostrado no making of de "Edifício Master". O próprio improviso, no entanto, traz um charme especial ao documentário. Quando a equipe chega para a entrevista com uma moradora perguntando se ela havia esquecido o compromisso e ela comenta que acabou de acordar, e o problema é de quem vai ver sua cara de sono.

Cenas como essa, dos bastidores, são mescladas às entrevistas dando maior credibilidade ao documentário. E já que tocamos nesse assunto, para Trisha Das, "em documentário, credibilidade é a chave". Por isso, é necessária a preocupação do cineasta em conseguir a confiança do telespectador. Em "Edifício Master", o cineasta foi bem sucedido nesse quesito.

"O tema é elemento soberano", afirma Trish Das. Nesse conceito, um questionamento é válido, será que Eduardo Coutinho concorda? Durante as gravações de "Edifício Master", como foi mencionado, houve a possibilidade de filmar em outro condomínio. Mas então qual é o tema do documentário? Apenas a vida real de moradores de condomínios? O documentário talvez não teria tanto sentido se não fosse a ligação desses moradores com o condomínio em questão e o contexto que o envolve.

Finalmente, para Das, "a forma é mais importante que a fórmula". De fato, como pudemos observar no filme, não há receitas para fazer documentário, cada assunto é específico, e é mostrado de forma específica. O modelo que Coutinho usou, de mostrar o entrevistado respondendo suas perguntas, mesclando com trechos dos bastidores adicionam valor ao filme porém não é a fórmula para qualquer tipo de documentário.

Para concluir, é necessária uma última problematização, sobre a mediação da realidade feita por Coutinho. O documentário lida de fato com cenas reais e pessoas reais, no entanto, essas pessoas são usadas como personagens, de maneira a se assemelharem a personagens da ficção, para se tornarem tão interessantes quanto. Dessa forma, Coutinho "constrói" uma realidade a ser mostrada nas telas, a partir das pessoas que escolhe para conversar (de 500 moradores, 37 foram escolhidos), das perguntas que direcionam a fala deles e claro, da própria edição final do vídeo. Isso, no entanto, não é suficiente para tirar a credibilidade dele.


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