Maria Carolina Vieira RA: 830674
O documentário “Edifício Máster” de Coutinho apresenta algumas características peculiares para o gênero. Não se trata de uma história linear que contém um tema central que se mostra na tela, e sim de fragmentos de histórias de vida, de pessoas totalmente diferentes entre si habitando no mesmo lugar. Juntam-se todos esses depoimentos e só assim temos um tema: o Edifício Master. Embora este conduza e ligue cada parte do documentário, ele não é o personagem principal. Cada um que fala, cada momento ou trecho transforma aquelas pessoas comuns em personagens principais do filme. Portanto, mesmo que num primeiro momento o próprio condomínio pareça ser o ponto chave do documentário, são os personagens que dão vida a ele: o tópico o tema é o principal não condiz com “Edifício Máster”.
Outro fato peculiar, desta vez em relação à produção do documentário, é que ele não é fechado, já que a equipe chega ao local de filmagens quase totalmente às cegas e somente aí começa a levantar possíveis personagens e maneiras de se construir o filme. Eles não tinham idéia para onde a história seria conduzida. Neste ponto, “Edifício Máster” cumpre com o tópico de Tricha Das, pois ele é flexível. Só que esta flexibilidade não é sinônima de desorganização ou falta de direção. Ainda que os personagens (e suas histórias) que construíram “Edifício Máster” fossem uma caixinha de surpresa, quem e cada trecho de fala relevante para o filme foram selecionados, e a filmagem e a condução de cada depoimento foi devidamente dirigida, o que nos leva a concluir que o tópico envolve menos controle não condiz com a realidade.
Talvez o que Tricha Das considere como ter menos controle é o fato da produção não ter o poder de modificar ou interferir imensamente na realidade, partindo-se do suposto que documentários tratam de fatos e não de ficção. Coutinho cumpre com esse tópico, pois o que torna “Edifício Máster” digno de ser lembrado é a veracidade transmitida pelas histórias de vida dos personagens escolhidos. Se não fossem verdadeiras, não teriam graça, já que qualquer um poderia inventar uma narrativa fantástica. Sendo assim, credibilidade é a chave, e Coutinho consegue trabalhar muito bem com isso.
Ele trabalha muito bem, também, com o tópico a forma é mais importante que a fórmula. Isso quer dizer que, se seu documentário fosse organizado de outra maneira, dando menos espaço aos próprios personagens (mesmo que explorasse o universo do condomínio e dos depoimentos) talvez não conseguisse chegar ao público como chegou.
Por fim, o tópico inspira movimento e ação não pode ser atribuído ao documentário de Coutinho, pois ele aborda uma realidade praticamente estática (pessoas falando de vivências dentro de seu lar, com a semelhança que moram todas no mesmo condomínio). A única coisa que se pode notar é que, embora, cenicamente, “Edifício Máster” não mostre movimento, as narrativas dos personagens inspiram o público a criar ação em seu próprio imaginário (como eles contam fatos de suas vidas, levam o público a encenar mentalmente o que foi somente contado e não encenado).
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