segunda-feira, 31 de maio de 2010

Edifício Master: uma análise a partir de Trisha Das

De acordo com o texto How to write a documentary script da roteirista e diretora norte-americana Trisha Das, em um documentário, o tema é o principal, a chave do sucesso é a credibilidade, a forma é mais importante que a fórmula, é flexível, é um formato que envolve menos controle, que trata de fatos e não de ficção.

A partir da observação das gravações do making off do documentário Edifício Master, de Eduardo Coutinho, será feita uma comparação entre as afirmações de Trisha e da composição do documentário do roteirista brasileiro:

- “O tema é o principal”. Certamente. Como pode-se perceber nos bastidores do Edifício Master, depois que o tema é escolhido, ele é levado até o final. Como aparece no making off, a equipe de Coutinho afirma que não sabiam se gravariam apenas no edifício Master ou se teriam que procurar mais um condomínio de apartamentos, o que significa que o objetivo, que era o de entrevistar diferentes pessoas que moram em um mesmo prédio, estava determinado. Para cumpri-lo, não importava quantos prédios teriam de procurar.

- “A chave é a credibilidade”. Mais uma vez Coutinho e sua equipe agem conforme os princípios de Trisha. Nenhum entrevistado foi filmado logo de início. Antes de gravar com cada um, houve uma entrevista inicial, uma espécie de bate-papo. Tanto para avaliar se a história daquele morador seria útil para o documentário, tanto para mostrar que o que estava acontecendo ali era um trabalho sério.

- “A forma é mais importante do que a fórmula”, “é flexível”. A primeira questão talvez deixe um pouco de dúvida. Se o que Trisha quis dizer com a afirmação é que o mais importante é O QUE será feito do que COMO será feito, parece que a equipe de Coutinho se portou como tal. Com base no que já foi dito na primeira afirmação, fazer o documentário é o mais importante. Eles tinham uma ideia e sabiam que precisavam fazer um documentário, ainda que o tema final não fosse conhecido. Ou seja, embora não tivessem certeza de como seria o produto final, tinha absoluta certeza que nasceria um documentário. Logo, é também flexível e, de quebra, “é um formato que envolve menos controle”. Afinal, ao decidir por fazer um documentário, o roteirista tem uma ideia inicial, que nem sabe se pode se concretizar. Como no caso de Coutinho, ao mesmo tempo em que ele e sua equipe pesquisavam, iam traçando a história a ser contada. Ou seja, não está nas mãos do diretor dizer aos entrevistados “agora você fala isso e faz aquilo”, é a partir das entrevistas que vai se descobrir se a ideia de tema inicial pode gerar um tema legal de trabalho.

- “Trata de fatos e não de ficção”. É desta forma que Coutinho trabalha durante toda a produção do Edifício Master, no entanto, ele busca tratar de fatos de modo a torná-los interessantes como se fosse ficção. Pois, que graça teria entrevistar pessoas com histórias absolutamente normais? Desta forma, Coutinho tem o cuidado de procurar histórias diferentes, como a de uma moça que é prostituta, de outra que tem fobia social etc. Ou seja, apesar de se tratarem de fatos, são parecidos com a ficção e expostos de modo a se tornarem interessantes.

Conclui-se assim que Edifício Master segue a fórmula de documentário de Trisha, principalmente porque no making off é possível perceber as incertezas de Coutinho, a preocupação com o produto final, a necessidade de se encontrar pessoas com boas histórias e dispostas a falar, sempre na busca de se obter bons materiais para a produção de um bom resultado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário