quinta-feira, 27 de maio de 2010

O documentário e “Edifício Master”

Nome: Bruno César Tozatti Piola (RA: 830542)

Edifício Master (2002), de Eduardo Coutinho, é um documentário que mostra as diferentes histórias de moradores de um prédio, localizado em Copacabana, no Rio de Janeiro.
Pode-se dizer que a temática é a diversidade de histórias, de vidas, de indivíduos que moram uns do lado dos outros e nem sequer se conhecem. Mas seria o tema o aspecto principal de um filme? Eu acredito que não: quando vamos assistir a uma produção cinematográfica, o que nos chama a atenção é obviamente do que a obra trata, mas não o que nos faz ficar sentados durante toda a projeção. Claro, contar várias histórias para um documentário parece interessante, mas se assistíssemos a narrativas monótonas e triviais, certamente não assistiríamos ao filme inteiro. Para mim, a abordagem do tema é mais importante que o tema em si.
Se vamos assistir a um documentário, esperamos ver situações reais (caso contrário, optaríamos por um filme de ficção) e conhecer mais da nossa realidade. Por isso, credibilidade deve ser um valor levado em conta na hora de se filmar um. Ninguém vai valorizar o filme se não acreditar no que se passa na tela. Em Edifício Master, essa credibilidade é alcançada ao deixar os próprios moradores falarem – desse modo, seus discursos parecem autênticos. Eles são apenas direcionados pelas perguntas de Coutinho, mas isso não compromete em nenhum aspecto o longa.
Não gosto do termo “fórmula”, porque ele não abre espaço para criatividade, inovação, descoberta. Infelizmente, fórmulas de como fazer documentários são usadas por muitos cineastas até hoje. A forma de um filme, para mim, é mais importante, porque é o que o espectador vai ver diretamente, é o que pode diferenciar um filme dos outros. A fórmula restringe um filme a coeficientes, e uma obra é muito mais complexa do que isto.
Concordo apenas em parte com a afirmação “O documentário trata de fatos, não ficção”. Se eu pudesse reescrevê-la, seria assim: “O documentário trata de fatos, fazendo uso de elementos narrativos”. O público está bem mais acostumado a ver filmes de ficção do que documentários – talvez este seja o maior motivo pelo qual exista uma certa estrutura narrativa neste tipo de filme. Podemos observar que, em documentários, há a construção de personagens (em Edifício Master existem muitos), contextualização de um conflito, e a resolução ou não deste - todos elementos que aparecem em quase todos os filmes de ficção. Então, creio que a linha entre documentário e ficção é bastante tênue, e não deveríamos nos apressar em classificar um filme como “ficção” ou “documentário”. As duas categorias se complementam.
Já quanto à flexibilidade do documentário eu concordo plenamente. Este não possui o conforto dos filmes de ficção, que geralmente são gravados em estúdios e com o roteiro pronto. Como se está lidando com a realidade, o cineasta é muito mais livre para fazer suas escolhas de como filmar, qual sua abordagem da temática. Por outro lado, há pouco controle na hora de realizar um documentário: tudo pode acontecer, e nesse “tudo” incluem-se coisas ruins como não se conseguir depoimentos suficientes, falta de autorização para captar imagens, etc. Lidar com a realidade te dá liberdade, mas também exige mais cuidado na estruturação do documentário.
Finalizo este texto com a declaração que o documentário “inspira movimento e ação”. Talvez ela se refira ao modo como os documentários são filmados: eles carecem de pesquisa, de muito esforço, de criatividade e muito talento, principalmente.

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