sexta-feira, 2 de julho de 2010

Considerações sobre documentário

Thiago Sawada RA: 830691

Na pré-produção de um documentário, parte-se de uma ideia que deve ser subjugada por duas limitações principais: tempo para gravação e recursos financeiros. Obviamente, satisfazer essas pré-condições não garante a qualidade do produto final. Ora, o sucesso dessa expressão audiovisual é bastante condicionado ao tema – este seria o principal de um documentário, segundo Trisha Das. Entretanto, não basta o tema ser de interesse do espectador se não há imagens suficientemente capazes de manifestá-lo.
Por mais que um documentarista fique restrito à dimensão de um tema, por outro lado, em geral, as possibilidades de formas para produzi-lo são bastante amplas. Até mesmo em Edifício Masther, onde Coutinho estabelece que os personagens seriam compostos pelos moradores do prédio, evidencia-se que a história de pessoas comuns pode ser uma fonte bastante produtiva para um documentário que se propõe expressa a intimidade humana.
Um documentário não tem a estrutura de um filme de ficção, cuja trama já fora previamente determinada. Sendo assim, a composição de um documentário sempre é flexível, de tal forma que este gênero acaba dependendo muito das condições factuais enquadradas no campo de filmagem da câmera, bem como de personagens não habituados a se comunicar em um vídeo. E mesmo que as produções cinematográficas e documentárias sigam por caminhos diferentes, suas estruturas devem ser construídas buscando apreender o interesse do público.
Ainda que busque representar uma “realidade”, vários documentários utilizam-se de recursos ficcionais. No making off de Edifício Masther, Coutinho demonstra sua empolgação com a proximidade da realidade com a ficção. Por mais que em certos casos, a distinção entre ficcional e realidade seja muito tênue, pelo menos em um aspecto, é possível separar os gêneros: no caso do documentário os personagens são pessoas reais que assumem um papel determinado pelo tema abordado. O interessante é que, em Edifício Masther, os moradores não apenas sustentam a ideia central, como também criam pequenas tramas a cada depoimento.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Documentário "Edifício Master" e os tópicos de Tricha Das

Silvia Franchin de Campos - RA 830551

Segundo Tricha Das, o gênero documentário possui certas peculiaridades. Com o documentário Edifício Master não foi diferente, apesar de certas características da obra de Coutinho não condizerem com a concepção de Tricha Das. O documentário Edifício Master é formado pelo conjunto de várias histórias contadas por indivíduos que habitam o mesmo local. Apesar desse conjunto de histórias formarem a identidade do Edifício, ele não pode ser considerado o personagem principal, afinal, Coutinho soube dar a cada um dos entrevistados a importância necessária para ser visto como personagem principal. Portanto, nesse caso, Edifício Master não condiz com tópico de Das, em que “o tema é o principal”. Um fator que chama a atenção no documentário é a flexibilidade presente no decorrer da filmagem. Isso porque, a equipe de Coutinho chega ao Edifício e começa a bater nas portas à procura de possíveis entrevistados. Ou seja, não havia um roteiro, algo programado do inicio ao fim, pois a equipe chega ao local sem saber exatamente qual caminho será tomado na filmagem. Por isso, o documentário condiz com os tópicos “é flexível” e “envolve menos controle”. O documentário consegue também alcançar a “credibilidade” exaltada por Das. Isso porque, o clima rústico da filmagem e a entrevista - mais parecida com uma “conversa” - consegue transmitir maior veracidade que uma entrevista comum. No making off, a maneira como Coutinho dialoga com os moradores do edifício transmite a idéia de que o diretor realmente consegue “arrancar” a verdade dos personagens. Por serem histórias reais narradas pelos indivíduos, o documentário, como propõe Tricha Das, “trata de fatos, não-ficção”. Por fim, o documentário, apesar de ser filmado por câmera fixa e limitar-se ao interior de um edifício, “inspira movimento e ação” se o espectador conseguir se envolver com as historias contadas pelos moradores do Edifício Master. Através das histórias, o espectador consegue se libertar do espaço delimitado pelo edifício para outros espaços e ações colocadas pelos entrevistados.

Documentário “Edifício Master” e análise “How to write a documentary script”

Documentário “Edifício Master” e análise “How to write a documentary script”

Renato Sostena 830615

Relacionando a produção do making of de “Edifício Master”, de Eduardo Coutinho, com a análise de Trisha Das, é possível apontar os tópicos propostos por Trisha, na prática. O documentário em questão tem o Edifício como personagem central, constituído de histórias pessoais dos diversos entrevistados, que também se relacionam com a obra na forma de personagens. Isso porque a temática, segundo Das, muda de acordo com o que está sendo mostrado, contado. Dessa forma, a intimidade dos moradores representa o tema.

Além de discorrer sobre temática, o texto também toca no ponto da limitação da produção audiovisual. O gênero documental permite a flexibilidade de uma maior dinâmica de edição, sem restrições de gravação com aplicação de roteiro. Porém na edição, o controle é exercido na forma da escolha das cenas, para a adequação à idéia.

Para a produção do “Edifício Master”, a equipe de Coutinho viveu no Edifício por alguns dias, para que ocorresse certa correspondência entre os entrevistados e a equipe, e assim familiarizados as entrevistas seriam mais intimistas e com o teor dramático adequado para o projeto. Apesar da personalização, todas as histórias são reais, o que confere credibilidade ao documentário.

Então, entrelaçando a crítica de Trisha, “How to write a documentary script”, com o que o making of revela da produção do documentário é que sem dúvidas, a credibilidade é a peça chave do documentário. Caso contrário, a representação do audiovisual seria classificada em outro gênero, que utilize o artifício ficcional.

Em termos de tema, ele se molda a cada conversa, cada entrevista, cada silêncio que está na obra. Ele permeia a pessoalidade dos personagens e a coletiva deles, na relação de moradores do mesmo prédio. Logo, a forma é mais importante que a fórmula, pois ao contrário do cinema, com algumas exceções, os documentários levam uma idéia, geralmente proposta por um idealizador, o que é representada pela forma que a obra toma, e não pela fórmula que ela se baseou.

A credibilidade alcançada pela intimidade conquistada com os personagens afirma a veracidade do tema, que é a relação dos moradores protagonistas com o prédio, com outros moradores e suas histórias de vida. A flexibilidade pode ser notada na forma com que Coutinho levou a produção, sem se preocupar com a pressão de tempo, para que o material colhido fosse exatamente o que ele precisava. E mesmo com câmeras fixas, entrevistas reflexivas e pontuadas por silêncio, o documentário leva o movimento e a ação contidos dentro da temática proposta.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

O documentário de Coutinho

Por Laís Modelli RA: 830828

Ele não se preocupa com a criação de personagens, ele apenas busca-os. Assim é o documentário de Eduardo Coutinho, Edifício Master. A exemplo do que Gay Talese fez em seu livro sobre perfis de pessoas reais, tendo como ponto de partida a cidade de Nova York, Coutinho tem no decadente Edifício de Copacabana o ponto de união desses perfis. No making off podemos ver que o documentarista percorre os corredores do prédio batendo de porta em porta. Aliás, sua produtora o faz em busca da autorização do morador. A produtora conversa, explica o que está acontecendo e o que pretendem com a gravação. Uma vez aprovada a conversa pelo morador, entra em cena Coutinho, que participa de toda a filmagem, conversando com o personagem, sem aparecer nas cenas, já que a câmera está posicionada ao seu lado. O making off do documentário, no entanto, mostra que não é tão simples assim gravar o Edifício Master. Uma vez dada a carta branca para a conversa, o trabalho da produção só está começando: é preciso saber posicionar a câmera, é preciso fazer o personagem contar suas histórias, é preciso saber escolher os personagens. Gravar o documentário é tão complexo que, no começo do making off, parece que Coutinho escolheu o cenário errado. Os moradores estão muito desconfiados e os que mostram seus rostos não tinham boas histórias. Começamos a ver, no making off, o bonito Edifício Master se formar quando o diretor passa a ser uma figura confiável dentro do prédio, deixando seus personagens mais a vontade. O diferencial do documentário de Coutinho é saber reconhecer quando o real parece ficção.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Intersecção

ow to write a documentary script? de Trisha Das e o documentário Edifício Master de Eduardo Coutinho são duas aulas de como se fazer roteiros para documentários. É inevitável, de início, desconfiar: como ensinar algo que não possui forma até ser feito? Trisha responde teorizando sobre o que já foi filmado; Coutinho, filmando.
Enquanto Trisha Das tem uma teoria relativamente complexa, com regras e estilos, Coutinho é a personificação da prática (que não deixa de ser um estilo). No entanto, ainda que em estilos bastante distintos, há um sinequismo (aproveitando o termo da semiótica peirceana que embasa alguns aspectos da teoria de Trisha) nas lições de ambos, mostrando que concordam em muitos aspectos.

As sete considerações que Trisha sugere para o documentário são exemplarmente exploradas por Coutinho em sua produção. A segurança do cineasta ao lidar com a flexibilidade do gênero, refletida na preocupação em adaptar o filme ao conteúdo captado, ao invés de tentar encaixotar os depoimentos num formato pré-estabelecido, deixam evidente que o tema da filmagem - os moradores do prédio - sobrepõem-se a qualquer outro fator.
A voz dos entrevistados é quase todo o áudio do documentário, salvo pelas curtas perguntas dos entrevistadores (e a canção de Frank Sinatra, claro), o que limita o controle do documentarista mas sustenta a credibilidade dos depoimentos. O movimento, a fluidez do filme, é garantida pela própria eloquência dos entrevistados, quando não pelos raros cortes. A liberdade que os personagens se manifestam preserva a autenticidade das emoções captadas.

Contudo, a maior proximidade entre a prática de Coutinho e a teoria de Trisha está nos métodos de pesquisa. Trisha declara que quanto melhor for esta pesquisa, maior será o valor do filme. E especifica mais adiante que, mesmo relevando significativamente a consulta a livros e filmes que trataram anteriormente sobre seu tema, é importante entrevistar as pessoas , ter perspectivas variadas do tema que vai ser tratado. A quantidade de entrevistas que a equipe de Coutinho realiza na comunidade do edifício master é bastante significativa. O material coletado, além de apresentar profundamente os personagens do documentário, permite imaginar o cotidiano daquele condomínio. E tudo que foi produzido ali é fruto maior dos moradores que de Coutinho, justamente pela maestria com que ele permitiu que as coisas acontecessem naturalmente.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

"Edifício Máster" / "How to write a documentary script?” Trisha Das

Raphael Rodrigues 833711


Como se montar um documentário? É só pegar a câmera e seguir em frente? É necessário traçar todo um roteiro, que determine as ações, os personagens e os temas do qual este tratará? Com certeza tais perguntas já passaram pela mente de quem tem como objetivo um dia seguir o caminho da produção deste tipo de produção. Para responder tais perguntas Trisha Das em “How to write a documentary script?”, expõem alguns pontos colocados como de grande importantes para que se de a montagem de um documentário. São eles:

- O tema é o principal.
- Credibilidade é a chave.
- A forma é mais importante que a fórmula,
- Trata de fato, não de ficção.
- É flexível.
- Inspira Movimento e ação.
- Envolve menos controle.

Coutinho, em seu documentário "Edifício Máster" seguiu alguns dos preceitos colocados acima, como os de que a credibilidade é a chave e que um documentário deve tratar de fatos e não de ficção. Podemos verificar tais preocupações pelas entrevistas, o que demonstra que ali são histórias de pessoas, o passado e o presente de cada uma e que no momento em que elas aparecem à frente da câmera contando tais fatos há um grande depósito de credibilidade a estas histórias.
O documentário aqui comentado também envolve menos controle, logo é flexível, inspirando movimento e ação. Tais pontos são facilmente observados pelas mudanças de direções durante as gravações, e da busca de um tema já após a instalação da equipe no edifício. Até mesmo Coutinho em certo ponto comenta que eles ainda estão a procura do que realmente será feito alí .
Porém quando assistimos ao documentário de Eduardo Coutinho vemos que é se importante conhecer a fórmula, porém quando quebrados alguns padrões de forma consciente podemos alcançar ótimos e diferenciados resultados que chamam a atenção de espectadores. É assim que ocorre com o “Edifício Máster”, que vai contra alguns outros preceitos apresentados por Trisha. Ele não toma um tema como principal, nele o principal é o local onde são encontrados hoje os personagens que irão contar suas histórias. Os temas vão mudando em cada entrevista. Podemos dizer que apenas há um ponto de intersecção que agiria quase como tema, sendo este as histórias de vida de pessoas que hoje vivem nos andares do Edifício Máster.
Já a formula, aqui se apresenta mais importante do que a forma, já que a forma não existe de início. Ela vai se desenhando no percorrer das gravações do documentário, diferentemente da fórmula, que é a de entrevistar várias pessoas que ali vivem e trazer as essências dessas juntamente com histórias que atraiam o público. Porém durante a entrevista também não há um caminho a ser seguido, fluindo naturalmente.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Edifício Master

Júlia Matravolgyi RA: 830607
Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça. O documentário “Edifício Master”, de Eduardo Coutinho, chegou às telonas décadas depois do Cinema Novo, mas manteve um de seus princípios: a busca por produções com mais realidade, mais conteúdo e menor custo.

No documentário do ano de 2001, o cineasta instituiu um tema central para embasar seu filme e, a partir dele, passou semanas selecionando os personagens que participariam de sua história – a intenção era mostrar ao espectador um prédio banal perto da praia de Copacabana no Rio de Janeiro e provar que, por detrás daquelas portas e da aparência ordinária, estavam pessoas e histórias dignas de um filme.

Assim sendo, Coutinho utilizou três dos tópicos citados por Thisha Das em How to write a documentary script apenas na proposta do filme, provando a importância da escolha de um denominador comum para as histórias, e também que a forma é mais importante que a fórmula e que certa falta de controle é essencial para o sucesso de uma produção de não-ficção.

Explico: o tema central é suficiente para que Edifício Master seja um filme coeso. O diretor não precisou buscar histórias semelhantes ou características similares em seus entrevistados, uma vez que todos atendem ao pré-requisito de morar no prédio que nomeia a produção. A curiosidade do espectador parte do mesmo ponto – conhecer as várias narrativas que são guardadas pelas paredes do prédio.

Da mesma maneira, de acordo com a afirmação de Das e com as características da obra de Coutinho, a forma é mais importante que a fórmula, ou seja, a forma padronizada de exibir entrevistas e imagens do edifício é mais importante do que impor uma fórmula pré-estabelecida para as entrevistas que (ainda bem) fluem de acordo com a história de cada morador do edifício, seja ele o cantor em início de carreira, a senhora que relata ter sofrido um assalto, o homem que cantara com Sinatra ou a jovem prostituta.

Talvez não possamos dizer que houve falta de controle por parte do diretor, ou então devamos classificá-la como uma “intencional” falta de controle. Sem ela, o longa não teria se “construído” a partir das histórias dos moradores do edifício carioca. Percebemos isso no decorrer do filme e também em seu making of, onde os responsáveis pela produção se maravilham com cada história selecionada para fazer parte do longa.

Edificio Master trás ainda outras características estudadas por Trisha Das: baseia-se em fatos reais, contém histórias críveis (uma vez que são reladas por quem as vivenciou) e instiga os espectadores, inspirando movimento e ação. É quase uma versão cinematográfica do jornalismo literário – dá vida e aspectos narrativos ao que é banal e real, concedendo a notoriedade merecida às histórias que estavam lá, esperando para serem contadas.

Exercício Coutinho e definições de Trisha

Mariana Almeida RA:830801

A autora Trisha Das em How to write a documentary script define sete diferentes categorias como inerentes a um documentário, são elas:
- o tema é o principal;
- credibilidade é a chave;
- a forma é mais importante que a fórmula;
- trata de fatos, não ficção;
- é flexível;
- inspira movimento e ação; e
- envolve menos controle.
No documentário Edifício Master de Eduardo Coutinho, vemos que nesse caso específico nem todas as categorias de Trisha são seguidas, algumas até são opostas ao que ela define.
Coutinho não tem um tema definido, ele apenas decidi fazer um documentário e exige que este seja feito no edifício Master, porém não há sequer um tema ou um roteiro pré-determinado.
Quanto à credibilidade Coutinho também pensa ser a chave, assim como Trisha, ele prefere desistir a fazer algo que não fique bom, segundo seus padrões. Ele também segue a teoria de que a forma é mais importante, assim ele muda de estratégia ou de foco quando necessário para o andamento do trabalho.
A questão da não ficção não é muito levada em consideração por Coutinho, pois ele sempre busca por personagens que relatem boas histórias, independente de estas serem reais, já que esse não é seu foco principal.
Coutinho é bastante flexível em seu documentário, dessa forma quando algo não está de acordo com o previsto é mudado imediatamente. Juntamente com sua equipe ele sai para fazer as gravações pré-agendadas, porém se encontra uma boa personagem no meio do caminho, eles vão atrás dela para ouví-la.
O documentário Edifício Master é bem dinâmico ao apresentar depoimentos de diferentes pessoas sobre os mais diversos assuntos e situações.
Durante toda a gravação não há um rígido controle de Coutinho, pelo contrário as coisas vão ocorrendo livremente, de maneira que ao final das gravações tem-se uma infinidade de horas em inúmeras fitas com depoimentos que somente na edição serão escolhidas e selecionadas pelo diretor de maneira que possam dar uma sequência plausível ao documentário.
O documentário de Eduardo Coutinho, “Edificio Master”, é a prova de que todos têm alguma coisa para contar. Não importa quem seja, mas que seja verdadeiro. Coutinho procura exatamente isso: a verdade que se esconde, a verdade detrás as portas daquele condomínio, a verdade que nem sempre se mostra, porque nem sempre há alguém que queira escutar. Coutinho soube perguntar e, sobretudo, soube escutar. É a partir disso que o diretor é levado por aquelas pessoas, com suas histórias e para outras histórias e pessoas que também residem ali.

Diante a perspectiva do pormenor, Coutinho não pode limitar. Não pôde escrever um roteiro porque não sabia o que o esperava, não sabia se ao menos teria um documentário no final das gravações. O tema nem sempre é o principal quando se lida com gente, porque a vida sincera não pode ser limitada por um olhar arrogante, predisposto. Deixa de ser um documentário e se abstém dos fatos para ser uma ficção. Um olhar predisposto, que aguarda uma resposta ensaiada, não deixa de ter sua essência, sua arte, e tem sido muito valorizado. Porém, o olhar predisposto é mais fácil, menos flexível, menos questionador e se torna um vício.

No documentário, toda essa estrutura lógica de formato audiovisual é posta de lado; não há linearidade, não há lógica na sequência em que os depoimentos foram disponibilizados, não há pessoas travestidas de personagens. Não há nenhum intuito maior se não escutar o que cada uma daquelas pessoas tem a dizer, e é ai que nos impressionamos. As histórias contadas parecem ser inventadas, porque exercitamos o escutar sincero, sem pretensões. E só acreditamos porque a credibilidade é construída pouco a pouco, diante a narrativa despida de efeitos e até amadora no sentido da captação das imagens. As imagens fora de foco, tremidas, mal enquadradas exerceram esse importante papel na construção da credibilidade ao se aproximar do real, do imperfeito.

Dessa maneira, Coutinho soube conduzir com flexibilidade as entrevistas. Não foi conduzido nem deixou de conduzir, afinal uma pergunta pode levar toda uma entrevista para outro lado. É no limiar entre levar e se deixar levado que Coutinho registra as possibilidades do ouvir por completo, provando que todos têm sim alguma coisa para contar.

Ana Paula B Machado 830941

O documentário “Edifício Master” e os tópicos de Tricha Das

Renata Mondini Takahashi

830593

É complicado elaborar uma fórmula para uma produção audiovisual. A tentativa pode ser válida e útil em algumas ocasiões, mas não deve limitar o produtor, diretor e roteirista. Tricha Das trabalha com sete tópicos em “How to White a documentary”. A seguir, alguns comentários a respeitos desses tópicos, com base no documentário de making off do filme também documental “Edifício Master”, dirigido por Eduardo Coutinho.

No making off, descobrimos que para produzir “Edifício Master”, Coutinho e sua equipe passaram algumas semanas morando no edifício, para aproximar a equipe e os moradores, e para que a produção se familiarizasse com o lugar. A intenção era inspirar a equipe, para fazer surgir idéias para o filme. Assim, quando Tricha Das diz que o documentário é um gênero flexível, ela é condizente com o que fez o diretor Coutinho, que se mostra aberto a idéias e possíveis mudanças de planos.

O documentário mostra que os moradores do edifício são pessoas diferentes umas das outras, cada qual com sua história. Ele procura dar espaço a cada história, uma por uma, o que faz com que o documentário tenha diversos personagens e protagonistas. Apesar disso, possui um tema que liga todas as pessoas que aparecem no vídeo, que é o Edifício. Todas são moradoras do Edifício Master. Ainda assim, não é apropriado dizer que o tema é o principal nesse caso, como afirma Tricha Das. A temática muda de acordo com a história que está sendo contada. Talvez se antecipando a qualquer crítica, um dos tópicos de Tricha é justamente que a forma é mais importante que a fórmula. Admite assim, mesmo tendo escrito uma lista de como se escreve um documentário, que quem produz o filme não precisa se fechar em um modelo. Eduardo Coutinho procede dessa maneira em sua produção.

O diretor opta, em boa parte do filme, pela câmera fixa. As entrevistas são, em sua maioria, depoimentos auto-reflexivos, com trechos de silêncio. As histórias contadas são reais. Portanto, o diretor trata de fato, não de ficção em seu documentário. Nesse ponto também se apóia a dramaticidade. Mas mesmo tratando de fato, o making off nos mostra que há seleção na gravação dos depoimentos e na escolha e edição dentro do vídeo. Por isso, não necessariamente, a produção de um documentário envolve menos controle, como afirma um dos tópicos de Tricha.

Não há dúvidas sobre a credibilidade ser a palavra-chave na produção do documentário. No caso de Coutinho, ele constrói sua credibilidade na forma como lida com os personagens do filme, encorajando-os a contar suas histórias na frente das câmeras e não impondo barreiras aos entrevistados. Assim, eles ficam tão a vontade que a conversa parece íntima, o que dentro de um documentário, que busca mostrar a realidade, é essencial e acaba inspira o telespectador.

Making off – Edifício Master

Ana Carolina Lorencetti Chica RA: 830501


Making off – Edifício Master



A partir dos pontos propostos por Trisha Das para a elaboração de um documentário, pode-se estabelecer várias semelhanças com o making off do Edifício Master, do diretor Eduardo Coutinho.
No documentário produzido, o tema principal deixa de ser o edifício Master em si, centrando-se nas dificuldades da gravação – na busca pelos personagens ideais, pela melhor história, pelo melhor posicionamento da câmera. Este making off poderia ser dividido em duas partes: a primeira, mais pessimista, revela os transtornos pelos quais a equipe passou – ausência de interessados em participar, desconfiança dos moradores quanto aos seus objetivos, falta de boas histórias para contar - como se o diretor tivesse perdido o controle sobre sua produção, procurando desesperadamente uma pauta que não se adequava àquele local.
As dificuldades são centradas no membro principal da equipe, o diretor Eduardo Coutinho, que por diversas vezes mostra-se inseguro e desacreditado do sucesso de seu projeto. O método de produção de Coutinho é caótico, desordenado: ele procura a pauta no momento em que já deveria estar executando-a, e isso confere uma dúvida para o telespectador se o trabalho realmente ficará bom ou se será um fracasso. O maior medo do diretor é o de cair na mediocridade, na narração de histórias comuns, de personagens medianos, que nada acrescentariam para aqueles que fossem assistir.
Na segunda parte do documentário pode-se ver o resultado dos esforços da equipe: o êxito em conseguir personagens interessantes muda o clima das gravações, deixando-os mais confiantes no trabalho que estão realizando. O diretor, então, retoma o controle daquilo que está produzindo, ganha a confiança dos entrevistados e isto é crucial para que estes tenham liberdade para se expor. O documentário vai tomando forma, ganha movimento a partir do momento em que mescla depoimentos, conversas e discussões entre os membros da equipe com cenas do momento das gravações e os posteriores comentários sobre o conteúdo obtido. Coutinho busca não só histórias reais, factuais, mas sim histórias peculiares, diferentes e até mesmo únicas. Neste ponto o diretor procura o ficcional dentro da realidade, recontando histórias que poderiam perfeitamente ter saído de um livro, tamanho o envolvimento e a densidade que as conversas com os entrevistados possuem. A credibilidade do diretor é uma importante ferramenta de motivação para o resto da equipe, que tenta, a todo momento, melhorar o que já havia sido feito e buscar uma nova fonte, uma nova entrevista. Deste modo, sem cair na monotonia e mostrando-se flexível às dificuldades que surgem, o documentário repete uma velha fórmula – um começo com contratempos, uma reação vinda de trabalho árduo e um final feliz – sem por isso deixar de ser interessante e de prender a atenção do telespectador até o fim.

Uma vida de cinema

“O meio principal é sempre a ficção. O documentário é marginal em todo lugar. O publico vai ao cinema para se distrair e para ver um espetáculo de atores. Tira Michael Moore, que é exceção. Existe um boom de produção, mas continua um limite de pessoas que vão assistir”, diz Eduardo Coutinho, já se levantando para ir embora. Ele acabara de participar de um Congresso e estava cansado. Agradeci.
Coutinho costuma dizer que seus documentários são encontros. De um cineasta com os personagens de seus documentários. De dois mundos que entram em congruência em um dado instante. Para realizar Edifício Master, Coutinho teve que repensar quais frutos poderia colher desses encontros, o que poderia ser feito com uma câmera e vários personagens simples e em estado bruto. Documentário sobre vidas ou apenas um filme medíocre sobre a mediocridade? “Eu não sei se tenho uma história”, repetia um tanto ranzinza o cineasta, em crise permanente. “É um bom personagem?”, queria logo saber.
O personagem deve ter força, mostrar um pedaço de sua vida, partilhar suas emoções, seus preconceitos, seus medos. Ser humano para que humanos se identifiquem. Através desse documentário, Coutinho nos mostra um fato revelador: a força original da arte cinematográfica, de registro de uma imagem em movimento e, portanto, mais assimilável como real para o telespectador, vem à tona quando se suprime os dados da ficção que são comuns à arte de contar histórias. Ele não precisa de ficção, a vida humana que é mostrada em toda sua verticalidade já se faz um espetáculo. “Isso é pura ficção!” bradava empolgado Coutinho ao ver a complexidade de um personagem de seu documentário, “Pura ficção!”.
A janela cinematográfica, abrindo para um mundo, tende a subverter a segregação (física) dados os recursos poderosos que o cinema apresenta para carregar o espectador para dentro da tela. Cria deliberadamente a ilusão no espectador de que ele está no interior da ação ou/e que o aquilo que ele vê é real. Quando os personagens contam suas histórias de vida, partilham seus sentimentos com Coutinho não com eles que o estão fazendo. É com nós. Eles dizem a nós e Coutinho sabendo que é o seu público que ele está tocando. Isso é documentário, que não se difere muito da ficção e seu poder de emocionar. Aliás, esta é a dicotomia que o documentário moderno vive: se por um lado ele busca adquirir elementos ficcionais para uma maior dinâmica cinematográfica para atrair públicos e para uma linguagem expressiva maior, por outro lado é realismo, está no imaginário que é uma “coisa real” por mais manipulador que seja o objeto.
E desses encontros, considerados marginais por Coutinho, se faz a certeza que muitas vidas, medíocres que sejam, podem ser uma “história de cinema”.

Edifício Master: a verdade por detrás da verdade

Edifício Master (2002) se consolidou no mercado cinematográfico brasileiro ao retratar, com uma sensibilidade delicada, como diversas vidas comuns podem se entrelaçar e emocionar enquanto a vida de um edifício de classe média baixa é retratada. Coutinho mistura análise da emoção humana com o retrato da vida carioca dando ao documentário um ar intimista especial.
Mas até que ponto o documentário de Coutinho tem um estilo pessoal e até que ponto ele segue o modelo de documentário padrão?
Trisha Das definiu que um documentário, antes de tudo, deve se tratar de fatos, não ficção. Coutinho procura misturar os dois elementos, destacando o factual enquanto se preoucupa em retratá-lo da maneira quase ficcional. Percebemos a busca quase incessante de Coutinho em encontrar os "personagens" certos, que retratem a vida do prédio na visão humanista que Coutinho procura. Porém, mesmo com a intenção de transformar o documentário em um vídeo mais elaborado e subjetivo, a preocupação de Coutinho se atém nos fatos, o que se confere nas entrevistas que ele realiza com todos os possíveis "personagens" de seu documentário.
Também percebemos o quanto Coutinho se esforça para dar ao seu documentário a credibilidade necessária para tocar o espectador. Coutinho só se contenta quando obtém uma história verdadeira, e ele usa de suas experiências e de sua credibilidade para conseguir arrancar dos entrevistados essas histórias. A forma como faz isso também se destaca na maneira de Coutinho conduzir as filmagens. O diretor poderia fazer um documentário típico, mas ignora a fórmula e passa a testar diversas maneiras de conseguir as informações, jogando com o tempo, a disponibilidade dos entrevistados e as possíveis técnicas que pode usar. Coutinho se vira e revira na angústia de terminar o documentário, e exatamente por isso procura sempre a melhor forma de como fazê-lo. A flexibilidade, que Trisha Das destaca como importantíssimo em um roteiro, é marca essencial no documentário de Coutinho, porque, ao retratar a vida real, ele não tem total controle do material que obterá, então usa da flexibilidade para ter esse "descontrole" a seu favor.
De certa forma, "Edifício Master" segue exatamente os pontos principais de roteiros para documentário estipulados por Trisha Das. Porém, ao usar desses "passos" para construir um roteiro personalizado, que tenha a sua cara e o seu jeito de dirigir, Coutinho consegue transformar um documentário que tende ao comum para um documentário pessoal, interessante, movimentado. Bem, as "regras" de Das também são maleáveis, mas Coutinho leva essas regras a um patamar diferenciado, transformando "Edifício Master" não só em documentário, mas em um artístico quadro de Copacabana.

A LIBERDADE DE SE PRODUZIR UM ROTEIRO PARA DOCUMENTÁRIO

por: Juliano Ferreira de Sousa - RA: 830534

Para se fazer uma comparação entre a construção de um roteiro para uma produção audiovisual ficcional e a construção de um roteiro para documentário é preciso entender que ambos têm características, finalidades e formatos completamente diferentes. Enquanto um envolve personagens inventados, que seguem exatamente a história construída (escrita) para cada um deles, o outro normalmente trata de pessoas reais que vivem situações reais e que estão naquela produção como testemunhas, membros de uma produção que defende a verdade, e que busca, certamente, a construção de credibilidade.

Vale também citar que, quando pensamos em um documentário propriamente dito (que será usado na comparação com a ficção que faremos), estamos falando daquele que mescla imagens, depoimentos, o cotidiano, mostrando e discutindo o tema apresentado. O documentário linear, que apenas tem uma narração sobre uma coletânea de imagens, acaba por se aproximar mais do roteiro ficcional e por isso não será tão pensado nesta breve análise.

Os princípios defendidos por Trisha Das, vão exatamente tratar dos objetivos de um documentário, do modo que ele é construído, de suas prioridades, evidenciando seu natural distanciamento da ficção. Como corpus de análise, utilizaremos o Making off do documentário ‘Edifício Master’ (2002), que mostrou os bastidores das filmagens, o que foi levado em conta na separação das histórias e, o principal, o como o roteiro foi sendo construído naturalmente a partir de entrevistas, filmagens e separação de histórias.

Começamos, então, estabelecendo uma oposição natural entre o tipo de criação do roteiro ficcional e do roteiro de um determinado documentário. A ficção sempre é previamente pensada e a seqüência dos acontecimentos já está sempre previamente estabelecida (com a ação dos personagens e a história sendo minimamente modificada no período das filmagens). Já o documentário, como pudemos perceber no filme apresentado em sala de aula, prioriza o tema em si e, a partir dele, são buscadas informações, imagens, histórias, personagens reais e declarações que consigam enriquecer a proposta e construir naturalmente a história apresentada.

Também é válido comentar, que como pudemos observar no vídeo visto, o roteiro final do documentário citado acima só foi construído após inúmeras entrevistas, observações e conversas entre os diretores, produtores e a equipe de filmagem. Logo, podemos facilmente perceber que a construção do produto final deste tipo de conteúdo audiovisual é muito mais flexível, valoriza muito a ação da realidade, as histórias que mostrem a verdade, o relato de fatos firmes que passem a impressão de que temos ali uma produção bastante carregada de credibilidade.

Fica claro que o ‘Edifício Master’ (2002) só foi finalizado com sucesso porque sua equipe deu total liberdade para que as histórias, a seqüência e as filmagens fossem acontecendo de maneira livre, natural. Percebemos também que não existe fórmula concreta para se chegar a um documentário de sucesso, pois, cada produção vai se formar a partir do que foi coletado e percebido, podendo, no final, haver uma mudança total na idéia inicial que foi criada.

Enfim, foi justamente desta forma, sem ficar muito preso a roteiro pré-produzido e conseguindo pensar em prioridades durante o próprio período de investigação e gravação, que o diretor do documentário (Eduardo Coutinho) que estamos tratando conseguiu organizar, juntar e colocar de maneira interessante as histórias, as personagens (sabemos que, de 500 moradores, apenas 37 foram escolhidos para fazerem parte da produção); criando um ambiente bastante interessante em que o edifício funcionou como o principal personagem, de forma extremamente atrativa e curiosa.

"Edifício Master": os personagens e suas histórias

Trisha Das escreveu “How to write a documentary script”, através do qual ela avalia os meios de produção de um documentário, até seu resultado final. Das é clara ao comparar um vídeo documentário e um vídeo ficção. O primeiro é considerado por ela a reprodução do real, do fato, opondo este à ficção. Ressalta ainda a importância à pesquisa quando se pretende produzir um documentário. Como é a reprodução do real, não à toa o produtor conviverá com o incerto, não há um roteiro pré-determinado que será seguido por uma equipe que já sabe o resultado proposto, já sabe o fim da história. O documentário trabalha com novidades, com a surpresa.

Associando as posições de Das ao making off da produção de Eduardo Coutinho, “Edifício Máster” (2002), vemos a construção de personagens reais, a construção da vida dos moradores do Edifício a partir de suas falas e de suas histórias. A produção, neste ponto, foca na reprodução do real a partir de depoimentos e conversas com 37 moradores. O documentário é uma produção flexível, assim como especificou Das. A pré-produção propõe um rumo ao documentário, no entanto, as entrevistas acontecem, no caso de “Edifício Máster”, no mesmo momento em que imprevistos podem surgir. Aparecer alguém na hora ou alguém deixar de falar, altera o pré-projeto, mas é algo com que documentaristas estão acostumados, é inevitável.

A autora afirma ainda que o documentário inspira movimento e ação. Coutinho se preocupa com a forma de transmissão da mensagem e consegue assim fugir do comum, do esperado. É preciso estar preparado para improvisações. Às vezes surge uma imagem inesperada, que muda o rumo da entrevista, do depoimento, mas que o tornará mais interessante que suposto anteriormente. Além disso, não há espaço em todos os apartamentos, nem luz perfeita, mas é com essa instabilidade que Coutinho trabalha e que é também característica relatada por Das.

Das ainda afirma que o tema é o principal e que a credibilidade é a chave. Em “Edifício Máster” a história contada pelos moradores (personagens) é o tema do documentário. Os depoimentos é que dão credibilidade ao documentário por serem relatos da vida real.

A construção de Edifício Master

Karla Torralba RA: 833622

Comparando o making off do documentário Edifício Máster, de Eduardo Coutinho, é possível pontuar e analisar os aspectos propostos por Trisha Das em “How to write a documentary script”. São sete pontos propostos pela autora que devem ser ressaltados para que um documentário aconteça: o tema, a credibilidade, forma X fórmula, relação entre fatos e ficção, movimento e ação, a flexibilidade e o menor controle sobre a obra.

Sobrepondo os aspectos propostos por Trisha é possível afirmar que Edifício Máster, de Coutinho foge em alguns pontos do que seria considerada a linha ideal para que se começasse a produzir o documentário.

Com relação ao tema, percebe-se que no início Coutinho não tem o controle sobre o que exatamente vai tratar. O autor sabe que precisa de histórias, sabe que vai tratar de pessoas e seus problemas, mas ainda não tem conhecimento sobre suas fontes. As histórias e o próprio documentário dependem dos moradores do edifício.

É assim que o tema surge. Um grande exemplo é o momento em que a produção aborda uma moradora e comenta para tentar convence-la a falar que se não for possível coletar todas as histórias no Edifício Máster, a produção vai procurar outros prédios.

A relação entre fatos e ficção do documentário é percebida justamente na maneira como as fontes se posicionam e no modo como o autor as trata. Coutinho chega a “manipular” a maneira com que algumas das fontes contam suas histórias para que elas fiquem mais atrativas ao público, assim tudo vai surgindo.

Depois de conseguir as fontes e ter o embasamento sobre elas, Coutinho deixa a câmera ligada e apenas ouve os seus personagens desabafarem, mostrando todo o espaço do edifício como ele realmente é. É a credibilidade ressaltada por Trisha Das. Isso só é possível por conta do trabalho da equipe de conseguir essas pessoas que realmente têm o que dizer e assim conseguir prender a atenção do público.

É na relação forma X fórmula e na comparação making off X documentário pronto que percebe-se o “jogo de cintura” necessário para a elaboração de um documentário. A fórmula existe, mas se quando aplicada ela perder o interesse do espectador, ela não tem sentido de existir. É então que entra a flexibilidade, que foi muito utilizada por Coutinho. Coutinho tinha as idéias, sabia a fórmula, mas a qualquer momento ela poderia ser deixada de lado e isto aconteceu no momento em que a equipe pisou no edifício para coletar seus personagens.

Por fim, a ação e o movimento são conseguidos na busca pelos personagens. Os melhores personagens arrecadados durante a pesquisa vão render as melhores histórias e darão sentido e ação ao documentário.

Os aspectos propostos por Trisha Das mais vistos por trás das câmeras do Edifício Máster são a forma X fórmula; relação entre fatos e ficção; e movimento e ação. Tudo graças as histórias que criam o clima diferencial ao documentário.

Trisha Das dicas, Coutinho segue (ha-ha)

Ana Helena Ribas

RA: 830471

“How to write a documentary script” é uma monografia escrita por Trisha Das que aborda tópicos importantes na construção de um vídeo documentário. Em relação ao produto ela fala as diferenças deste em relação a outros projetos audiovisuais, dá uma introdução sobre estilos diferentes de documentários e ressalta o quão importante é a fase de pesquisa para um bom resultado. Sobre roteiros especificamente, Das aborda os elementos essenciais de um bom roteiro e a decupagem do texto para documentário, além de dicas para um bom texto e formato ideal para o roteiro.

O trecho em especial no qual a autora descreve as diferenças do roteiro para documentário parece ter sido seguido à risca pelo cineasta Eduardo Coutinho na produção “Edifício Master, claro que não literalmente, mas intuitivamente. Analisando brevemente o making off do documentário, que trata sobre a vida de pessoas ordinárias moradoras de um edifício em Copacabana, é obviamente perceptível que o grupo prezou pela realidade e veracidade dos fatos. Os produtores chegam no limite do real, conversando diretamente com as fontes e centrando a câmera na figura de cada uma delas, que abrem um cofre de histórias íntimas e emocionantes. A equipe filmou o cotidiano dos moradores do prédio durante sete dias, e, para exaltar ainda mais o fatídico, Coutinho utilizou-se da técnica de entrevista interativa que contemplou 37 moradores, dentre os 500 do edifício.

Outra característica exposta por Das e aplicada por Coutinho foi flexibilidade do documentário. Realmente não deve ser fácil alterar o rumo da história diversas vezes e adaptar-se a mudanças que fogem da pré-produção. Apesar de ter gasto três semanas em intensa pesquisa no edifício Master, a equipe de Coutinho enfrentou imprevistos como o caso da moradora que se esqueceu de recebê-los, além da surpresa de momentos inesperados como o caso do garoto que devolve o gato para a dona.

A parte em que a autora fala que o documentário inspira movimento e ação também tem a ver com o documentário de Coutinho, pois o cineasta se preocupou essencialmente com o processo e a forma de transmitir a mensagem ao público, e, com isso, conseguiu histórias maravilhosas e caminhos diferenciados para o vídeo. Trisha Das fala também sobre a falta de controle e instabilidade da produção em documentário. Aquilo que havia possibilidade de ser estabelecido com antecedência foi cumprido pela equipe de Coutinho, que demorou pra encontrar um edifício que topasse fazer as filmagens. Eles tiveram o jogo de cintura de montagem do mínimo de aparelhagem de acordo com as condições de cada apartamento, o que denota que a equipe estava preparada para o improviso. A escolha de imagens não-óbvias também faz parte do rol de riscos que o diretor assume com o imprevisto. Mas é claro que o documentário não funcionaria com imagens de praia ou do porteiro vendo televisão.

Os últimos dois tópicos da monografia, “O tema é o principal” e “Credibilidade é a chave” também foram pincelados por “Edifício Master”, que já no título expõe sua intenção quanto ao direcionamento do vídeo. O tema (moradores do edifício) é abordado incessantemente, durante uma semana de entrevistas ambientadas no mesmo local. O leque de assuntos tratados por todos os entrevistados chegam a um aspecto em comum: o brilho na vida de cada vizinho desconhecido. Sobre a credibilidade, Coutinho atribui toda a voz do documentário aos personagens da vida real. Os depoimentos sinceros são perceptíveis pelo espectador em cada rosto dos atores desconhecidos e a veracidade transcende ao domínio manual do diretor.

Edifício Master: construindo um documentário

Marina Paschoalli 830461

Eduardo Coutinho é um dos mais importantes documentaristas brasileiros. "Edifício Master" (2002) venceu o Festival de Gramado de 2002, Festival de Havana, Margarida de Prata e Troféu APCA em 2003, todos na categoria de melhor documentário. Para a produção de Edifício Master, uma produção de cinema filmou o cotidiano dos moradores do Edifício Master, um prédio de 12 andares, 23 apartamentos por andar e cerca de 500 moradores, situado a um quarteirão da praia de Copacabana. Coutinho e sua equipe entrevistaram 37 moradores e são as suas histórias o enredo do documentário.

"Edifício Master" é construído a partir das entrevistas, feitas com a câmera voltada para os entrevistados que, no documentário, tem o papel de personagens. Cada um deles atua como "contador das histórias de si mesmo", e fala sobre seus projetos, remorsos, traumas e sonhos. Assim, o filme acaba resultando em um registro da vida urbana brasileira.

Em "How to write a documentary script", Trisha Das define alguns conceitos importantes da produção de um documentário. Esses conceitos podem ser aplicados na construção e filmagem de "Edifício Master", a fim de estabelecer problematizações acerca dos pontos de convergência e divergência entre a opinião de Das e a produção de Coutinho.

"Documentário lida com fato, não ficção", afirma Trish Das. De fato, o documentário em questão trata de pessoas reais e, mais importante, emoções reais. É justamente essa realidade vista na câmera que emociona o telespectador.

"Documentário é flexível", complementa Das. Uma cena do making of de "Edifício Master" retrata tal afirmação: Coutinho e sua equipe afirmando que não sabiam se teriam que procurar outro local para filmar ou se apenas o Master bastaria. Diferente de filmes ficcionais, é impossível concretizar eventos de acordo com um roteiro quando se trata da vida real. Considerando outro conceito importante de Das, "Documentário envolve menos controle". O cineasta não tem a habilidade de controlar as circunstâncias reais, como foi mostrado no making of de "Edifício Master". O próprio improviso, no entanto, traz um charme especial ao documentário. Quando a equipe chega para a entrevista com uma moradora perguntando se ela havia esquecido o compromisso e ela comenta que acabou de acordar, e o problema é de quem vai ver sua cara de sono.

Cenas como essa, dos bastidores, são mescladas às entrevistas dando maior credibilidade ao documentário. E já que tocamos nesse assunto, para Trisha Das, "em documentário, credibilidade é a chave". Por isso, é necessária a preocupação do cineasta em conseguir a confiança do telespectador. Em "Edifício Master", o cineasta foi bem sucedido nesse quesito.

"O tema é elemento soberano", afirma Trish Das. Nesse conceito, um questionamento é válido, será que Eduardo Coutinho concorda? Durante as gravações de "Edifício Master", como foi mencionado, houve a possibilidade de filmar em outro condomínio. Mas então qual é o tema do documentário? Apenas a vida real de moradores de condomínios? O documentário talvez não teria tanto sentido se não fosse a ligação desses moradores com o condomínio em questão e o contexto que o envolve.

Finalmente, para Das, "a forma é mais importante que a fórmula". De fato, como pudemos observar no filme, não há receitas para fazer documentário, cada assunto é específico, e é mostrado de forma específica. O modelo que Coutinho usou, de mostrar o entrevistado respondendo suas perguntas, mesclando com trechos dos bastidores adicionam valor ao filme porém não é a fórmula para qualquer tipo de documentário.

Para concluir, é necessária uma última problematização, sobre a mediação da realidade feita por Coutinho. O documentário lida de fato com cenas reais e pessoas reais, no entanto, essas pessoas são usadas como personagens, de maneira a se assemelharem a personagens da ficção, para se tornarem tão interessantes quanto. Dessa forma, Coutinho "constrói" uma realidade a ser mostrada nas telas, a partir das pessoas que escolhe para conversar (de 500 moradores, 37 foram escolhidos), das perguntas que direcionam a fala deles e claro, da própria edição final do vídeo. Isso, no entanto, não é suficiente para tirar a credibilidade dele.


segunda-feira, 31 de maio de 2010

Personagem ou não personagem... Eis a questão!

Por Ana Lis Soares Costa - RA: 830781

Desvendar os mistérios por detrás das câmeras é sempre curioso e instigante. É sempre desconhecido o trabalho que o diretor, o roteirista, a equipe toda, enfim, teve antes de lançar o “bolo” pronto. Pois cada curta, longa, documentário ou qualquer gênero que seja é vivido de uma forma diferente; as vivências e as experiências vão se tornando parte daquilo que antes fora pensado. Uma ideia nunca será pronta. O ponto final nem sempre é feito da maneira que esperávamos, quem dirá o conteúdo em si. Não há trabalho que seja igual e, às vezes, nem semelhante. Não existe receita para se criar. A flexibilidade de observar e mudar e acrescentar e tirar informações e imagens deve existir o tempo todo como possibilidade.

É exatamente isso que sentimos quando adentramos a parede que separa a “ficção” do real, o “antes” do “depois” no making off do documentário Edifício Máster, do diretor Eduardo Coutinho, lançado em 2002. A agonia de não saber como será o ponto e, muito menos, o caminho a ser seguido é uma individualidade deste trabalho do autor – quem sabe se não o é em todos? Coutinho se mostra agoniado, irritado e, até mesmo, estressado a princípio. A equipe passa por muitas “crises” sobre o próprio filme que ainda não é filme e as personagens ainda não estão escolhidas.

Aliás, a escolha das personagens feita por Coutinho é algo profundo e trabalhoso. Quem vale à pena? Quem é uma personagem? Nesses momentos, vemos que a “ficção” é buscada e introduzida no contexto. Para uma comparação mais palpável, essa busca de personagens acontece assim como no Jornalismo Literário, encontrado no jornalismo impresso: ilustrar histórias de pessoas comuns, com uma linguagem real de uma forma cativante exige muita sensibilidade.

Ao longo do tempo e das entrevistas feitas – momento em que Coutinho se mostra mais seguro e otimista – a pergunta “o que é esse documentário?” vai sendo encontrada e respondida de forma natural. Aí, a partir disso, o diretor se inspira e em certo momento solta um “isso é pura ficção!!”. O que sentimos com isso é que a forma com que se faz um documentário é algo importante e que traz personalidade ao que é feito. Mas, o que mais interessa é o conteúdo conseguido. É a forma com que se conquista cada segundo de material cativante, de entrevista bem feita. A essência do documentário está na essência das personagens e das pessoas que o produzem.
Coutinho é hoje um dos nomes de maior destaque dentre os documentaristas. Talvez – ou com certeza – essa forma de ele olhar o mundo, de encontrar boas histórias em um “cortiço de Copacabana” o faz ser quem é e a conquistar o público que se encanta com suas personagens da vida real.

Os tópicos de Tricha Das valem para os documentários de Coutinho?

Maria Carolina Vieira RA: 830674

O documentário “Edifício Máster” de Coutinho apresenta algumas características peculiares para o gênero. Não se trata de uma história linear que contém um tema central que se mostra na tela, e sim de fragmentos de histórias de vida, de pessoas totalmente diferentes entre si habitando no mesmo lugar. Juntam-se todos esses depoimentos e só assim temos um tema: o Edifício Master. Embora este conduza e ligue cada parte do documentário, ele não é o personagem principal. Cada um que fala, cada momento ou trecho transforma aquelas pessoas comuns em personagens principais do filme. Portanto, mesmo que num primeiro momento o próprio condomínio pareça ser o ponto chave do documentário, são os personagens que dão vida a ele: o tópico o tema é o principal não condiz com “Edifício Máster”.

Outro fato peculiar, desta vez em relação à produção do documentário, é que ele não é fechado, já que a equipe chega ao local de filmagens quase totalmente às cegas e somente aí começa a levantar possíveis personagens e maneiras de se construir o filme. Eles não tinham idéia para onde a história seria conduzida. Neste ponto, “Edifício Máster” cumpre com o tópico de Tricha Das, pois ele é flexível. Só que esta flexibilidade não é sinônima de desorganização ou falta de direção. Ainda que os personagens (e suas histórias) que construíram “Edifício Máster” fossem uma caixinha de surpresa, quem e cada trecho de fala relevante para o filme foram selecionados, e a filmagem e a condução de cada depoimento foi devidamente dirigida, o que nos leva a concluir que o tópico envolve menos controle não condiz com a realidade.

Talvez o que Tricha Das considere como ter menos controle é o fato da produção não ter o poder de modificar ou interferir imensamente na realidade, partindo-se do suposto que documentários tratam de fatos e não de ficção. Coutinho cumpre com esse tópico, pois o que torna “Edifício Máster” digno de ser lembrado é a veracidade transmitida pelas histórias de vida dos personagens escolhidos. Se não fossem verdadeiras, não teriam graça, já que qualquer um poderia inventar uma narrativa fantástica. Sendo assim, credibilidade é a chave, e Coutinho consegue trabalhar muito bem com isso.

Ele trabalha muito bem, também, com o tópico a forma é mais importante que a fórmula. Isso quer dizer que, se seu documentário fosse organizado de outra maneira, dando menos espaço aos próprios personagens (mesmo que explorasse o universo do condomínio e dos depoimentos) talvez não conseguisse chegar ao público como chegou.

Por fim, o tópico inspira movimento e ação não pode ser atribuído ao documentário de Coutinho, pois ele aborda uma realidade praticamente estática (pessoas falando de vivências dentro de seu lar, com a semelhança que moram todas no mesmo condomínio). A única coisa que se pode notar é que, embora, cenicamente, “Edifício Máster” não mostre movimento, as narrativas dos personagens inspiram o público a criar ação em seu próprio imaginário (como eles contam fatos de suas vidas, levam o público a encenar mentalmente o que foi somente contado e não encenado).